domingo, 5 de dezembro de 2010

Em 8 anos, Lula recebeu 631.977 correspondências

Por meio de cartas ou e-mails, presidente recebeu milhares de mensagens durante o governo. Nos textos, críticas, elogios, fotos, pedido de autógrafos e até quem solicitou ajuda para salvar o casamento

BRASÍLIA – “Aqui na minha cidade, quando escrevi a primeira vez para você pedindo a cadeira de rodas para minha esposa, muitos riram de mim, achavam que nunca esta carta chegaria às suas mãos. Mas chegou e todos aqueles que acreditaram e não acreditaram ficaram muito felizes, pois nunca nenhum presidente se comunicou com a classe mais pobre. Você fez a diferença.” A mensagem, enviada a Lula em 9 de novembro deste ano, chegou de Rio Tinto, na Paraíba. É uma das 631.977 correspondências recebidas pelo presidente Lula por meio de cartas ou e-mails em oito anos de governo. O tom das mensagens mapeia altos e baixos durante seu governo: a expectativa e a torcida do início, as decepções e conquistas pelo trajeto.

A 26 dias do fim do mandato, Lula continua recebendo cartas. Como na carta de Rio Tinto, o tom agora é de nostalgia. Ao ler as primeiras cartas chegadas à Presidência, no início de 2003, já era possível ter uma pista da relação que a população teria com o presidente metalúrgico. “Oi, Lula”, começam muitas delas, dispensando o cerimonioso “excelentíssimo senhor presidente da República do Brasil”.

Antes de desfiarem suas histórias, muitos exibem uma intimidade e uma expectativa na solução dos problemas que é resumida assim: “O senhor que é do povo como eu vai me entender...” Quase todos os textos seguem um padrão: quem escreve primeiro faz um elogio, uma crítica ou dá uma sugestão, depois conta um pedaço de sua história, e faz um pedido no final. Tem quem procure dinheiro, remédio, emprego, uma casa, um empréstimo para comprar um carro e até a intervenção do presidente para ajudar marido e mulher a salvarem o casamento em crise.

Tem convite de aniversário, pedido de autógrafos, fotos, a oportunidade de viajar com Lula no avião presidencial. Não há nada mais que surpreenda Cláudio Rocha, chefe do Departamento de Documentação Histórica da Presidência (DDH), órgão responsável por receber, catalogar e responder cada uma das cartas que o presidente recebe. Para as opiniões, a resposta é um agradecimento. Para os pedidos, o DDH informa sobre programas do governo que eventualmente atendam aquela demanda.

Algumas histórias entraram para o folclore da Presidência. Um eleitor escreveu uma carta por dia ao presidente, desde o início do governo. Outro deu de presente a Lula um torno mecânico velho, como o que Lula operava quando jovem. Algumas mulheres são apaixonadas pelo presidente e pedem a oportunidade de trabalhar “cuidando dele”. (JC-05/12/2010)


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