domingo, 25 de abril de 2010

Mulheres têm o poder de decidir eleição


Eleitorado feminino supera em cinco milhões o masculino, uma diferença que poderá definir o destino da campanha presidencial deste ano

SÃO PAULO – Está nas mãos de um grupo historicamente desprezado pelo universo político tradicional – mulheres, especialmente mulheres de 35 anos ou mais e que constituem hoje 30,3% do eleitorado brasileiro, segundo o Tribunal Superior Eleitoral – o destino da campanha presidencial deste ano, segundo o professor titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, José Eustáquio Diniz Alves.
Num amplo estudo sobre o voto feminino, ele mostra que as mulheres superam os homens no eleitorado em praticamente cinco milhões de votos – universo essencial na definição do primeiro e segundo turnos das eleições para presidente. Curiosamente, ainda que as eleições deste ano incluam duas pré-candidatas mulheres – Dilma Rousseff, do PT, e Marina Silva, do PV – é o candidato José Serra, do PSDB, que tem maior apoio do eleitorado feminino.

Eustáquio explica que houve um processo de envelhecimento e feminização do eleitorado brasileiro, já que as mulheres possuem menores taxas de mortalidade e vivem mais que os homens. “Quem avalia as pirâmides etárias brasileiras em 1980 e 2010 percebe claramente que a base da pirâmide (os mais jovens) se estreitou bastante, enquanto o lado direito (o das mulheres) está ficando maior”.

“O eleitorado hoje é mais velho e mais feminino. Em 22 anos, as mulheres dobraram sua força eleitoral, passando de 37 milhões, em outubro de 1998, para 70 milhões, em fevereiro de 2010. Serão estas mulheres, especialmente as balzaquianas, que vão decidir as eleições. Apesar disso, não se percebe nos partidos atenção especial para as mulheres. Na quinta, o programa do PMDB tinha apenas uma mulher: Roseana Sarney”, diz ele.

A ideia de que as mulheres que vão decidir esta eleição não é só uma evidência numérica, mas histórica, baseada numa pesquisa realizada por Eustáquio sobre as eleições presidenciais de 2002 e 2006. Tanto em uma quanto em outra, o eleitorado feminino foi decisivo para adiar o desfecho das eleições para o segundo turno.

Na última pesquisa Datafolha antes do primeiro turno das eleições de 2002, Lula tinha 53% de intenção de voto entre os homens e 43% entre as mulheres – diferença de dez pontos percentuais. Serra tinha 23% de intenção de voto entre mulheres e 18% entre homens. Em 2006, o eleitorado feminino pró-Lula aumentou. Na última pesquisa de intenção de voto, 51% do eleitorado era masculino e 47%, feminino, diferença de apenas quatro pontos percentuais, enquanto o candidato Geraldo Alckmin tinha 39% de intenção entre mulheres e 36% entre homens.

“Lula melhorou seu desempenho entre as mulheres, mas estes quatro pontos percentuais foram suficientes para levar a disputa para o segundo turno. Tivesse ele mais apoio feminino, teria ganho as duas eleições no primeiro turno”, diz Eustáquio.
(JC - 25/04/2010)

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