Mais da metade dos estudantes brasileiros na faixa dos 15 anos está abaixo do nível básico de aprendizado em leitura, matemática e ciências. Análises e reflexões sobre o desempenho desses estudantes no Programme for International Student Assessment (Pisa) foram apresentados na manhã desta terça-feira, 6, no seminário Pisa 2015, no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), em Brasília. Além do ministro, o encontro teve a participação da secretária executiva do MEC, Maria Helena de Castro, e da presidente do Inep, Maria Inês Fini.
De acordo com os dados apresentados, sete em cada dez alunos na faixa dos 15 anos está abaixo do nível 2 de proficiência em matemática, considerado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) o nível básico de aprendizagem e participação plena na vida social, econômica e cívica das sociedades modernas em um mundo globalizado.
Em ciências, foco desta edição da avaliação internacional, pouco mais de 40% dos estudantes brasileiros atingiram pelo menos o nível 2 dessa escala. Em leitura, 51% dos estudantes estão abaixo do nível 2. Da última edição do Pisa, em 2012, para a mais recente não foram registradas diferenças estaticamente representativas, a não ser em matemática, que teve piora nos resultados.
Na avaliação do ministro da Educação, Mendonça Filho, esse resultado representa uma tragédia para o futuro dos jovens brasileiros. “O que pudemos constatar diante desses números é que a grande maioria desses jovens não tem o conhecimento mínimo necessário para exercer a cidadania de acordo com padrões do mundo globalizado no qual vivemos”, disse. “Isso é extremamente preocupante e reforça, ainda mais, a necessidade de urgência na adoção de medidas que possam mudar esse cenário em médio e longo prazos.”
Os instrumentos do Pisa (testes e questionários) propiciaram três principais tipos de resultados:
Um perfil básico de conhecimentos e habilidades dos estudantes.
Como tais habilidades são relacionadas a variáveis demográficas, sociais, econômicas e educacionais.
As tendências que acompanham o desempenho dos estudantes e monitoram os sistemas educacionais ao longo do tempo.
No Brasil, a avaliação trienal de estudantes com idade entre 15 anos e 3 meses (completos) e 16 anos e 2 meses (completos) no início do período de aplicação é responsabilidade do Inep. Para a edição 2015 foram selecionados estudantes das 27 unidades da Federação. Participaram 23.141 alunos de 841 escolas, que pela primeira vez fizeram uma aplicação totalmente computadorizada.
O perfil típico do estudante brasileiro participante foi do sexo feminino (51,5%), matriculado no ensino médio (77,7%) de uma rede de ensino estadual (73,8%), localizada em área urbana (95,4%) e no interior (76,7%).
Ciências — O desempenho médio dos jovens estudantes brasileiros na avaliação de ciências foi de 401 pontos, valor significativamente inferior à média dos estudantes dos países membros da OCDE (493). O desempenho médio dos jovens brasileiros da rede estadual foi de 394 pontos.
Por ofertar prioritariamente o ensino fundamental, a rede municipal apresentou desempenho inferior ao das escolas de outras dependências administrativas (329). Alunos da rede federal de ensino obtiveram o melhor desempenho em ciências (517 pontos) e assim superaram a média nacional, mas não estatisticamente diferente do desempenho médio dos estudantes da rede particular (487).
Por unidade da Federação, o Espírito Santo apresentou o melhor desempenho (435); Alagoas, o menor (360). O desempenho médio dos meninos em ciências foi superior ao das meninas na maioria das unidades federadas.
Independentemente da média de desempenho geral do país, as diferenças de dificuldade em relação aos três sistemas de conhecimento de conteúdo foram relativamente pequenas. Itens relacionados ao contexto pessoal foram considerados mais fáceis pelos estudantes brasileiros do que os de contexto local e global. Essa mesma tendência foi observada em diversos países e nas unidades federativas brasileiras, embora as diferenças tenham apresentado grandes variações.
Os estudantes brasileiros tiveram maior dificuldade nos itens de resposta aberta, seguidos pelos de múltipla escolha complexa e simples, tendência também observada em outros países analisados.
Leitura — O desempenho médio dos estudantes brasileiros de 15 anos na avaliação de leitura foi de 407 pontos, valor significativamente inferior à média dos estudantes dos países membros da OCDE (493). O desempenho médio em leitura dos jovens brasileiros da rede estadual foi de 402 pontos, enquanto na rede municipal observou-se desempenho médio de 325.
Alunos da rede federal tiveram o melhor desempenho em leitura (528 pontos) e superaram a média nacional, mas não estatisticamente diferente do desempenho médio dos estudantes da rede particular (493). Por unidade federativa, o Espírito Santo teve melhor desempenho (441 pontos) e Alagoas, o mais fraco (362). Em todas elas, o desempenho em leitura das meninas superou o dos meninos. A Bahia apresentou a maior diferença (34 pontos) e Mato Grosso do Sul, a menor (8).
Os estudantes brasileiros mostraram melhor desempenho com textos representativos de situação pessoal (e-mails, mensagens instantâneas, blogues, cartas pessoais, textos literários e textos informativos) e desempenho inferior ao lidar com textos de situação pública (textos e documentos oficiais, notas públicas e notícias). Itens com textos contínuos foram mais fáceis para os estudantes brasileiros. Esses textos são definidos por sua organização em orações e parágrafos, típicos de textos argumentativos, contos e romance, por exemplo.
Itens com textos em formato combinado foram mais difíceis para os estudantes, o que correspondeu, de modo geral, a índices de desempenho mais altos. O formato de texto combinado caracteriza-se pela junção de parágrafos em prosa e listas, gráficos, tabelas ou diagramas. Itens que envolveram localização e recuperação de informação foram mais fáceis para os estudantes brasileiros, enquanto itens que envolveram integração e interpretação foram mais difíceis.
Matemática — O desempenho médio dos jovens brasileiros de 15 anos na avaliação de matemática foi de 377 pontos, valor significativamente inferior à média dos estudantes dos países membros da OCDE (490). O desempenho médio dos estudantes da rede estadual foi de 369 pontos; da rede municipal, 311 — diferença estatisticamente significativa com relação ao primeiro.
Estudantes da rede federal tiveram melhor desempenho (488 pontos). No entanto, isso não é estatisticamente diferente do desempenho médio dos estudantes de escolas particulares (463). Por unidade da Federação, o Paraná apresentou melhor desempenho (406 pontos) e Alagoas, o pior (339). Contudo, o Paraná, bem como o Amapá, não atingiu a taxa de respostas exigida, o que prejudica uma análise fidedigna desses estados. Praticamente em todas as unidades federativas o desempenho em matemática dos meninos superou o das meninas.
Os estudantes brasileiros apresentaram melhor desempenho em itens da categoria quantidade (valor em dinheiro, razão e proporção e cálculos aritméticos). Isso significa que o manuseio com dinheiro ou a vivência com fatos que gerem contas aritméticas ou proporções é uma realidade mais próxima dos estudantes do que, por exemplo, espaço e forma.
A categoria de conteúdo com os maiores valores no índice de desempenho foi a de espaço e forma. Esta subárea da avaliação de matemática envolve uma diversidade de propriedades encontradas em vários lugares no mundo físico e visual. Trabalha-se, por exemplo, com as propriedades das figuras geométricas, como o perímetro ou a área, e as características das figuras espaciais entre outras.
A interação dinâmica com formas reais, bem como com suas representações, mostrou-se um conteúdo mais difícil e trabalhoso para os estudantes de 15 anos.
Com relação à categoria de contexto, os resultados mostram que os estudantes de 15 anos têm mais facilidade quando a matemática envolve diretamente atividades cotidianas, família ou colegas. Problemas como preparação de comidas, jogos, saúde pessoal ou finanças pessoais são situações mais facilmente “matematizadas” e resolvidas autonomamente.
Algo semelhante ocorre com o mundo laboral e ocupacional, desde que acessível e condizente com a condição de um estudante de 15 anos. Isso é mais facilmente reconhecido pelos jovens, representado, por exemplo, por decisões profissionais, controle de qualidade, regras de pagamento de trabalho etc.
No âmbito do processo, a categoria formular obteve o maior nível de dificuldade em todas as unidades federativas. A diferença foi considerável em relação à categoria empregar, a segunda com os maiores valores do índice de desempenho. Já a categoria interpretar foi a mais fácil para os estudantes brasileiros.
Assessoria de Comunicação Social
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