Nesta quarta-feira (20), após reconhecimento da Assembleia Legislativa do Ceará como um trabalho promissor em busca de soluções diante da crise hídrica e desertificação no Bioma Caatinga, pesquisadores da rede nacional Ecolume participam de evento do Poder Legislativo Cearense, em Fortaleza. Eles apresentarão ações em desenvolvimento no sertão do Moxotó de Pernambuco, sendo consideradas como pertinentes aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, estratégicos ao desenvolvimento humano e sustentabilidade no Bioma. A Ecolume, que é coordenada pela climatologista Francis Lacerda, do Laboratório de Mudança Climática do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), garante que é possível plantar água, comer Caatinga e irrigar com o sol.
"Nossos estudos e trabalho de campo têm sido desenvolvidos na escola de Agroecologia Serta, em Ibimirim/PE. Lá, buscamos demonstrar que, com os efeitos das mudanças do clima globais sobre a região semiárida, a biodiversidade nativa da Caatinga, já adaptada naturalmente ao clima semiárido, e em combinação com s utilização da energia solar, existem potencialidades para se encontrar soluções para os desafios hídricos, alimentar e energético", garante Francis. Desse modo, a rede já está planejando a instalação do primeiro sistema agrovoltaico da América do Sul para a produção de alimentos vegetais orgânicos e animal, no Sertão. A Ecolume é financiada pelo CNPq desde o início deste ano.
O sistema, que usa painéis fotovoltaicos transformando a radiação solar em energia elétrica, também faz a captação e bombeamento de água. E ainda potencializa o gerenciamento hídrico eficaz e eficiente através do modelo de produção de plantas e peixes por aquaponia (um sistema simples de engenharia por tubos e tanques, otimizando o uso e reuso da água). "Portanto, tal modelo evidencia a abundância oriunda do sol, onde a temperatura tende a aumentar e a chuva a diminuir com as mudanças climáticas, e demonstra que é possível aumentar a produção de água, desde que pelo seu uso racional e implantação de tecnologias sociais", conta Francis.
Entre as plantas, o replantio de espécies da Caatinga (recaatingamento) com fins alimentícios, medicinais e outros fins socioeconômicos também têm sido estimuladas pela Ecolume. Uma delas é o Umbu, que começa a entrar em fase de extinção diante do desmatamento - cenário que tem contribuído para a ampliação do processo de desertificação no Sertão. Os alunos do Serta inclusive já criaram o grupo Guardiões das Caatinga, transformando as suas casas em viveiros abertos das plantas nativas. O IPA, em Ibimirim/PE, também está empenhado em produzir 3 mil mudas de umbu. E, no final deste ano, deve ocorrer as primeiras ações de recaatingamento da espécie.
O sistema agrovoltaico Ecolume/Serta estará sendo usado ainda para o recaatingamento, demonstrando potencial socioeconômico e ambiental das plantas nativas. "E com o solo coberto por vegetação da Caatinga, esta que pode ser consumida, o processo de desertificação pode ser mitigado, da mesma forma que contribui para manter o solo úmido, pois as plantas retêm a água em sua volta e contribuem para aumentar a umidade do solo e do ar através do seu processo de evapotranspiração, contribuindo para regulação do microclima local diante deste ciclo hidrológico natural da planta-água-solo e a atmosfera", explica Francis, justificando a metáfora plantar água pelo replantio da Caatinga, sendo irrigada com o sol pela radiação solar através das placas fotovoltaicas.
Por estas inovações e potencialidades, a rede Ecolume foi selecionada pela Assembleia Legislativa do Ceará como uma das experiências exitosas dentro do Bioma para participar da 2ª Conferência da Caatinga. O evento, que começa na terça (19) e vai até quinta (21), é realizado em parceria com o governo cearense, Ibama, DNOCS e outros órgãos públicos e privados. O tema do evento é Desenvolvimento Humano e Sustentabilidade, tendo como missão trazer à luz as graves questões que preocupam governos e sociedade civil organizada em torno do bioma, com ênfase na crise hídrica, na sustentabilidade e no processo agressivo de desertificação, tendo como eixo central o Ser Humano.
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