segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Correio braziliense sobre candidatura de Ana Arraes: "De candidata por acaso a favorita à vaga no TCU"

A deputada Ana Arraes quer ser a primeira mulher desde a redemocratização a assumir um posto no TCU

CONGRESSO

Ana Arraes não cogitava seguir carreira em mandatos,
mesmo sendo filha e mãe de políticos. Eleita
deputada federal, ela também não pensava em ser
ministra do tribunal, mas se tornou a principal aposta
para o cargo.
 


Nunca antes na história recente deste país a disputa
de uma vaga para ministro do Tribunal de Contas da
União (TCU) foi acompanhada tão de perto pelos
analistas políticos e pelos próprios parlamentares. E
todo esse alvoroço ocorre graças à candidatura da líder
do PSB, a pernambucana Ana Arraes. Aos 63
anos, em seu segundo mandato na Câmara, fechou a
semana com uma boa margem de votos no PT de Lula,
no PSDB de Aécio Neves e no PSD de Gilberto
Kassab, e chama a atenção com a possibilidade geral
de ser a primeira mulher a ocupar uma vaga no TCU,
desde a redemocratização do país. A última que obteve
esse mérito foi Élvia Castelo Branco, ainda no
período da ditadura militar (1964-1985).

Advogada e técnica judiciária do Tribunal Regional
do Trabalho da 7ª Região, ela junta em sua campanha
o sobrenome do pai, Miguel Arraes, e conta ainda
com o trabalho do filho, o governador de Pernambuco,
Eduardo Campos. Mas não é só isso. O
PCdoB de Aldo Rebelo fez de tudo para que ela desistisse
da disputa e apoiasse o candidato comunista.
Ela não topou: "No meu dicionário, não existe a palavra
desistir. A minha candidatura não é minha. Foi
apresentada pelo meu partido e estou trabalhando para
ganhar", afirma.

Quem conhece dona Ana, como os colegas de Congresso
a chamam, sabe que ela fala sério. Afinal, desde
muito jovem ela enfrentou as dificuldades
impostas pela ditadura militar. Em julho de 1964, aos
17 anos, foi incisiva com o comandante-geral do IV
Exército, general Olímpio Mourão Filho, ao pedir
que ele liberasse a presença de seu pai, àquela altura
preso político em Fernando de Noronha, para que ele
pudesse comparecer ao casamento da filha. Ela tanto
fez que o general assentiu. E, em agosto, ela se casou
na capela da Base Aérea, cercada por soldados.
Do casamento, Miguel Arraes voltou para a cadeia.

Ana, já casada, não seguiu com ele para o exílio mais
tarde. Só foi revê-lo mesmo em 1970, quando levou
seus filhos para conhecer o avô em Argel, capital da
Argélia, entre eles, o pequeno Eduardo. A família só
se reuniu para valer em 1979, quando Arraes voltou
do exílio e ela passou a acompanhar de perto a carreira
do pai. E, mais tarde, a carreira política do filho.
"Eu nem pensava em ser candidata, mas fui. Agora,
também não pensava em concorrer ao TCU, mas tomei
gosto", diz.

Liderança

A candidatura a uma vaga na Câmara dos
Deputados aconteceu mais ou menos como esta de
agora para o TCU. Com Eduardo Campos candidato
a governador, em 2006, o partido considerou
importante ter o sobrenome Arraes no palanque. E foi
assim que ela, então com 59 anos, virou candidata e
terminou surpreendendo. Hoje em seu segundo mandato,
com Dilma Rousseff presidente,
foi logo guindada à condição de líder da bancada. No comando do
partido, agregou mais do que dividiu. Mas não deixou
de dar uma resposta seca ao deputado Gabriel
Chalita, quando ele saiu do partido atirando contra o
PSB. Ela lhe passou uma descompostura dizendo
que ele poderia ter saído do partido pela porta da frente.
Entre os colegas ela é vista como alguém de fibra.
Voz baixa, porém firme. E quando toma gosto por alguma
coisa, não tem obstáculo que a segure. Na política
foi assim. Tomou tanto gosto que, no ano
passado, percorreu 120 mil quilômetros no período
de campanha, o que ajudou a multiplicar a votação de
2006. Foram 387.581 votos, o que a colocou entre as
campeãs em todo o Brasil. Ela espera que para o TCU
não seja diferente.

Três perguntas para – Ana Arraes (PE), líder do PSB
na Câmara dos Deputados. Por que a senhora quer ser
ministra do TCU?

Acho que posso juntar a experiência do período em
que fiquei no tribunal com a sensibilidade política.
Eu não pensava em ser candidata, mas o partido me
propôs, eu pensei e aceitei o desafio. Eu acredito na
política. Nasci nela. A política cria chances de mudanças.
Ela tem construído no Brasil muitas mudanças.
Quando não, era porque não tinha órgão
fiscalizador atuante com a força que a democracia dá.
A técnica também é importante, aliada à política. Sou
advogada, possuo a técnica e espero aliar as duas coisas.

Houve muita pressão para que a senhora desistisse.
Como é concorrer contra colegas que têm muito mais
tempo de mandato que a senhora?

Meu pai dizia que quem tem medo de perder não disputa.
Não tenho medo de disputar. Posso até não ganhar,
mas entro numa campanha para levar avante
um objetivo. Além de todos os fatores, a presença de
uma mulher. A única mulher no TCU foi Élvia Castelo
Branco, ainda na ditadura.

E o governador Eduardo Campos nessa campanha?

Ele tem ajudado, mas quem disputa é a candidata.
Nossa campanha segue com muito respeito, nosso
partido se juntou, estamos conversando com outras
legendas, com os eleitores e recebendo sinais positivos.
Sou do diálogo. Se ganhar, a vitória será de
muitos. Se perder, a derrota será da candidata.
____________

“No meu dicionário, não existe a palavra desistir. A
minha candidatura não é minha. Fui apresentada pelo meu partido e estou trabalhando
para ganhar” Ana Arraes (PSB-PE), deputada
federal.
  

Nenhum comentário: