O Pontal Sequeiro surgiu com o objetivo de criar novas oportunidades no semiárido, em especial, para agricultores tradicionais que tiveram de ser reassentados com a criação de um novo perímetro de irrigação na cidade pernambucana de Petrolina. O Pontal Sequeiro se tornou o endereço de 139 famílias, atendidas por um programa social, com acesso a assistência técnica e extensão rural. A prática se tornou um caso exemplar da Secretaria Nacional de Irrigação, do Ministério da Integração Nacional.
Os números comprovam o sucesso do projeto. Somente em 2013, a produção local foi de mil toneladas de forragem, quantidade suficiente para atender um rebanho de sete mil cabeças, e 250 toneladas de excedente. A renda com a engorda e comercialização de caprinos e ovinos gerou R$ 550 mil no ano passado.
O projeto dividiu oito mil hectares (ha) em 142 lotes com aplicação da técnica de sequeiro. Criada pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), a área possui dois lotes que são usados para pesquisas e outros 73 hectares que são destinados à produção coletiva de forragem. A partir da regularização fundiária, os agricultores receberam cerca de 50ha, uma tomada de água e um ponto de energia elétrica.
Outra atividade em destaque no Pontal Sequeiro é a criação de caprinos e ovinos, tradicional na região. Os agricultores preservaram as culturas tradicionais de plantio da mandioca, feijão, sorgo, além da produção de palma forrageira, uma variante resistente a pragas. A mudança ocorreu a partir da assistência técnica. A capacitação permitiu que os produtores tornassem a produção do rebanho mais eficiente e conhecessem as vantagens de se comercializar o animal precocemente. Eles também passaram a submeter a produção à vigilância sanitária, ação que agregou valor ao produto.
Os agricultores foram apresentados ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que determina aos municípios a preferência da compra de alimentos do produtor familiar. Na avaliação do técnico da Codevasf, Cláudio Baltazar, o PAA é um exercício para a comercialização. “O degrau seguinte foi a oferta da produção para os estabelecimentos da região”, conta.
Outra produção que ganhou destaque foi a de lacticínios. O leite e o queijo de cabra eram produzidos de forma artesanal e destinados ao consumo comunitário. Agora, os agricultores montaram um lacticínio, cuidaram da qualidade e também submeteram a produção à vigilância sanitária. No ano passado, 33 famílias lucraram R$ 54 mil.
A extensão rural mostrou também como tirar mais da propriedade, como a apicultura de abelhas sem ferrão. A primeira vantagem é a dispensa da roupa de proteção ao se manusear a colmeia, uma vez que a espécie mandaçaia não possui ferrão e é considerada dócil. A segunda é que o mel e o própolis produzidos por essa espécie têm preços diferenciados no mercado. Atualmente, 77 colmeias estão em fase de implantação no Pontal Sequeiro.
Mais uma atividade chamou a atenção no Pontal Sequeiro: o extrativismo do umbu. O fruto é velho conhecido do sertanejo do semiárido e sua utilidade era o consumo doméstico. Os agricultores deram um novo destino aos sete mil pés identificados. Hoje, o fruto é comercializado e a produção pode chegar a uma tonelada ao ano. Foram implantadas duas unidades de processamento para selecionar o fruto. Os menores são destinados à produção de doces, geleias, caldas, mousse e polpa. Os umbus maiores são vendidos aos supermercados. A produção em 2013 rendeu R$ 1.700,00 a cada família envolvida, durante 80 dias de trabalho – o período da safra.
Para Miguel Ivan, secretário nacional de Irrigação, os resultados do projeto Pontal Sequeiro são animadores. “A atuação no Pontal estabelece uma mudança de paradigma nos perímetros públicos de irrigação. Mostra que o trabalho da irrigação não é só sobre a obra ou sobre produção, mas sobre as pessoas do local. Ao apoiarmos os moradores locais de sequeiro também estamos tratando o perímetro público de irrigação como um sistema maior do que só a produção irrigada”, destaca Miguel.
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