Juristas, sociólogos, empresários, professores e estudantes uniram-se em frente à Faculdade de Direito do Largo São Francisco, no centro da capital paulista, nesta quarta-feira, para dar início ao que chamam de Manifesto em Defesa da Democracia. Cerca de 500 pessoas repetiram o texto que expressa indignação com as recentes afirmações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a imprensa, e que foi lido no local pelo jurista e ex-vice-prefeito de São Paulo no governo de Marta Suplicy, Hélio Bicudo.
Entre os presentes estava Miguel Reale Júnior, ex-ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso, que considerou fascista a atitude de Lula ao dizer que não precisa da opinião pública. “Na medida em que o presidente passou a denunciar a imprensa e dizer que não precisa de formadores de opinião, que ele é a opinião pública, essa é uma ideia substancialmente fascista. Ele sai da cadeira de presidente da República para ser um insuflador contra a imprensa, isso é um caminho perigoso para o autoritarismo”, indignou-se.
O rabino Henry Sobel também compareceu ao evento e assinou o manifesto. “A liberdade da imprensa é sagrada. Quem mexe com a imprensa livre está atacando os alicerces de toda a sociedade”, afirmou. José Carlos Dias, jurista que também foi ministro da Justiça no governo FHC, disse que “o presidente Lula ofende a imprensa quando se sente ofendido por ela”.
Assinaturas - O manifesto foi assinado inicialmente por 50 pessoas, como o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega, o poeta Ferreira Gullar, a atriz Rosamaria Murtinho e os cientistas políticos Leôncio Martins Rodrigues, José Arthur Gianotti, José Álvaro Moisés e Lourdes Sola. Durante o evento no centro da cidade, foram coletadas mais 500 assinaturas. A intenção, segundo os organizadores, é espalhar o texto entre entidades que defendem a causa em todo o país e confrontar o movimento liderado pelo PT que pretende se reunir, no auditório do Sindicato dos Jornalistas, também em São Paulo, nesta quinta-feira, para um ato público contra o que chamam de “golpismo midiático”.
De acordo com outro ex-ministro da Justiça José Gregori, o grupo tem se formado há cerca de 12 dias, quando o PT começou a se manifestar contra reportagens publicadas em diversos meios e afirmou que a imprensa tem agido como partido. “A gota d'água foi um comportamento que não só fere a Constituição, mas também fere a causa que ela defende, principalmente a frase do Lula dizendo ‘nós somos a opinião pública’, a opinião pública é o pluralismo que a gente defendeu e que lá no passado ele também ajudou a defender, ele é o presidente de tosos os brasileiros, não pode virar um homem de partido que vá para as ruas fazer o papel de alguém ligado ao partido”, explicou.
O jurista Hélio Bicudo, que leu o manifesto do alto de um monumento em frente à faculdade, criticou especificamente o argumento de Lula de que tem agido somente após o expediente. “Ele não tem horário de trabalho, presidente é 24 horas, não tem essa de agora sou, agora não sou, não é um brinquedo de criança. Quando ele tenta desmoralizar a imprensa, tenta desmoralizar todos os poderes e isso é fascismo. A democracia é um árvore frágil, precisa ser regada todo dia”, afirmou o ex-vice-prefeito. (VEJA ONLINE)
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