Arcoverde é conhecida como a porta do Sertão pernambucano, região que sofre com a longa estiagem e tem 56,25% das barragens em colapso. A seca também afeta a cidade: hoje o rodízio é um dia com água e outros 17 sem. Mas, diferente de outros municípios da região onde a água move economia local, baseada na agropecuária, por lá o comércio e a indústria crescem. Saúde e educação são serviços de referência e geram renda para os 68.793 habitantes. Menos de 10% da população mora na Zona Rural, área que geralmente concentra pobreza. Não é à toa que Arcoverde melhorou em todos os aspectos do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), com taxa de 0,667, considerada média pelos critérios das Nações Unidas.
Para medir o IDHM, são considerados indicadores de educação, saúde e renda, e todos eles registraram evolução entre 1991 e 2010 (veja tabela). A pontuação máxima é 1. Os dados foram divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no fim de julho. Na semana passada, Arcoverde realizou plenárias com secretários e lideranças para construir o Plano Plurianual (PPA), que explicita, de forma detalhada, a programação do governo para os próximos quatro anos. As assembleias ainda serão feitas nos bairros da cidade.
O instrumento já tem algumas metas definidas, como atingir a pontuação 6 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), reduzir a mortalidade infantil para 11 por mil nascidos e aumentar o IDHM Renda para 0,700. A produção do PPA recebeu orientação do sociólogo do Centro de Estudos e Pesquisas Josué de Castro, José Arlindo Soares, contratado pela Prefeitura.
"Saúde, com pouco esfoço, chega a 0,800, uma taxa muito alta. Arcoverde é uma das poucas cidades do Sertão que a renda/trabalho é maior que a renda/ transferência, ou seja, poucas pessoas que dependem de benefícios como Bolsa-Família. A taxa de pobreza é a menor da região, como 50,7%, que ainda é menor que a do estado, 51,1%. A maior trava para um desenvolvimento maior e sustentável hoje é a educação. É preciso um novo modelo, com escolas em tempo integral, professores com dedicação exclusiva e melhor infraestrutura", disse.
O G1 conversou com secretários municipais para saber o que será feito para atingir os objetivos e também sanar alguns problemas enfrentados pela população, como falta de creche pública e postos de saúde em bairros mais populosos. Tudo isso irá afetar a próxima medição do IDHM.
Educação
Educação foi o componente que mais saltou na pontuação nos últimos 20 anos, e é considerada pela Prefeitura como a base do desenvolvimento da cidade. Sem precisar sair do município, o morador pode começar na creche - apesar de ser difícil achar uma vaga gratuita, pois o município só tem um berçário público - e terminar o ensino superior. A rede de ensino municipal, por exemplo, conta com 31 escolas, com 6.100 alunos matriculados e 190 professores efetivos.
E nem todo que estuda por lá é arcoverdense. Andressa Bezerra, 16 anos, é de Buíque, cidade vizinha, e estuda na Escola de Referência em Ensino Médio de Arcoverde, unidade estadual que funciona em parceria como o município. Ano passado, ela fez intercâmbio na Nova Zelândia por meio do projeto Ganhe o Mundo. "Meus pais não teriam condições de pagar uma viagem dessa. Melhorei meu inglês, fiz amizades, quebrei padrões", disse.
A jovem quer fazer medicina, curso que ainda não existe em Arcoverde, mas afirma que foi nesta cidade que ganhou uma boa base para enfrentar a dura concorrência no vestibular. Trabalhar os primeiros anos de aprendizagem traz bons frutos, por isso, alunos do Centro de Ensino Integral Jonas de Freitas Lima estimulam a participação das crianças do ensino fundamental a participar de reforço escolar, projetos do Instituto Alfa e Beto (IAB) e Instituto Qualidade no Ensino (IQE) , além de ações mais lúdicas.
Aos dez anos, Waldemir Melo escreveu o primeiro poema em um projeto de cultura da escola. "Seu Ciço abre e fecha o portão, mas tem uma coisa: o cadeado aguentar abrir e fechar, abrir e fechar", recitou o menino. "Seu Ciço é o nosso porteiro. Fiz um sobre a Copa do Mundo também. Eu gosto de fazer [poema] agora, faço junto com minha irmã", explicou. Até o fim do ano, um livro deve reunir textos das crianças que participaram da iniciativa. "Dessa forma, estamos estimulando a leitura, fluência, interpretação, vocabulário, gramática, reescrita", enumerou a coordenadora do Centro de Ensino, Josenilda Paiva.
Polo de educação na região, muita gente de fora busca as escolas públicas e particulares e os cursos da Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde (Aesa), a primeira do estado, fundada em 1969. Ela oferta licenciaturas, bachalerados e pós-graduações e, em convênio com a Universidade de Pernambuco, também acolhe as graduações de odontologia e direito. "Sou da Zona Rural de Buíque e acho muito bom ter uma faculdade aqui perto, não precisar ir para Recife, ter mais despesas lá", afirmou Renata Bezerra, 17 anos, que acabou de matricular-se em letras.
A gestora da rede de ensino, Ana Maria Cavalcanti, reconhece que ainda há problemas de sala multisseriadas [alunos de várias série no mesmo local] na Zona Rural e a necessidade de ampliar a única creche pública. "Problemas de contrato com a construtora atrasaram a entrega de uma nova creche, que deve ser finalizada ano que vem. Um segunda já está em construção e para uma terceira estamos procurando terreno", disse. "Vamos também ampliar a rede escolar e municipalizar algumas, ainda estamos em negociação", complementou.
Investir no atendimento de alunos com necessidades especiais é outra prioridade. Segundo a gestora, não há corpo docente habilitado para esses alunos. "Vamos fazer concurso público ainda este ano", afirmou. Ela ainda informou que, em julho passado, o governo do estado deu ordem de serviço para construção de uma escola técnica. "O mais importante é jovens estudem e possam desenvolver suas atividades aqui porque encontra campo de atuação", disse.
Serviços, comércio e indústria
Falta de água, mão de obra qualificada e uma boa estrada para escoar os produtos ainda são entraves ao crescimento da indústria e da existência de grandes negócios na cidade, segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico, Wellington Araújo. "Mas esses problemas estão sendo resolvidos. Uma adutora está em construção, assim como uma escola técnica e cursos pré-técnicos", disse.
A escola técnica está sendo construída no distrito industrial regulamentado há três anos em Arcoverde. Um curso pré-técnico para 200 alunos também foi instalado no último mês de março. A ideia é qualificar a mão de obra local para ser empregada nas indústrias de pequeno e médio que irão se instalar por lá. O Estado também vai delimitar um distrito industrial no município. O terreno já foi comprado.
Mas ainda são o comércio e os serviços oferecidos na cidade que movem a economia e geram renda à população - a renda média per capita é R$ 469,53, segundo o Pnud. As micro e pequenas empresas empregam quase 90% dos que trabalham nesses dois setores. Georgia Souza cresceu na loja da mãe e, em 2000, abriu a própria, de produtos infantis. Hoje, tem sete funcionários. "Comecei na cara e na coragem, com muita dificuldade, mas tudo deu certo. Contei com a minha experiência no ramo", contou.
São cerca de 1,2 mil empreendedores individuais cadastrados no município. "Somos referência em abertura de empresas. Simplificamos o sistema, criando a Rede Sim, e conseguimos emitir a licença de funcionamento em 48 horas. Também estamos dando treinamentos a esses profissionais", informou o secretário.
Saúde
Diariamente, cerca de 350 vans de lotação com 4,5 mil passageiros chegam durante as manhãs em Arcoverde. São pessoas que querem fazer compras no comércio, assistir aula e, principalmente, ter uma consulta médica. A rede particular, com um hospital de alta complexidade e várias clínicas especializadas, atrai gente de toda a região.
A rede pública conta com 17 Estratégias de Saúde da Família (ESF) nas zonas Urbana e Rural, centros para mulheres, idosos, fazer vigilância em saúde, testagem e aconselhamento, atendimento odontológico e psicossocial, entre outros, além de desenvolver programas de saúde na escola e imunização, e oferecer um hospital regional com maternidade, urgência e emergência. Uma UPA Especialidade está sendo construída e, segundo o secretário de Saúde, Adilson Valgueiro, uma policlínica municipal deve virar UPA.
Atualmente, o maior problema no município é o déficit de 72 agentes de saúde - hoje há 103 - assim como a cobertura das ESFs, que ainda não é 100%. Alguns postos de saúde em bairros populosos não estão dando conta de atender tantos pacientes. É o caso do bairro São Miguel. "Aqui fica lotado toda vez que o médico vem, e tem gente que fica sem atendimento. Pelo menos remédio e vacina não faltam", reclamou a costureira Maria da Conceição Alves.
De acordo com o secretário, uma seleção de agentes de saúde será feita ainda este ano e dez ESFs precisam ser construídas para dar uma cobertura razoável à população - além das 17 que já existem. "Já solicitamos 12 ESFs para o Ministério da Saúde. Estamos esperando a resposta ainda. Ampliar a rede básica e focar na atenção à prevenção vai nos ajudar a alcançar metas para reduzir a mortalidade infantil e aumentar a longevidade da população e, com isso, melhorar nosso IDHM", disse. (Do G1)
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