quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Rompimento do PSB com o governo irá além da entrega de cargos, diz Campos


Foi feito um strike e todos os pinos foram derrubados. Essa foi a imagem usada ontem à noite, em encontro com aliados mais próximos do PSB, pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, para explicar que o rompimento que hoje será anunciado de uma aliança de 10 anos e nove meses com o PT não se resume a simples entrega dos cargos na Esplanada. Para ele, para evitar uma confusão na cabeça do eleitor, é preciso ficar claro que o PSB está deixando o governo, não é mais governo e agora vai ser solidário e apoiar apenas no que for de interesse do pais.


Campos fez questão de cumprir o ritual de comunicar a decisão ao ex-presidente Lula, sem deixar espaço para pedidos de reconsideração. A conversa, antes da oficialização, foi uma deferência a Lula, pois Campos não queria que o ex-presidente soubesse da decisão por outros meios. Também conversou com o secretário especial da presidente Dilma Rousseff, Giles Azevedo, e expôs o que será oficializado agora de manhã em reunião da Executiva nacional do PSB. Mas um encontro vai depender dela.
Na conversa de ontem à noite num jantar que entrou pela madrugada, ao lado da esposa, dona Renata, que o acompanha neste momento mais delicado, Campos tranquilizava os aliados quanto à possibilidade de uma reação mais irada da presidente Dilma e do PT: “Não fui educado para ter medo. Fui educado com valores, para ter responsabilidade”.
Os socialistas comemoraram o que chamaram de “importante sentimento de liberdade” depois de um ano de constrangimentos e cobranças por parte do PT, PMDB e do Planalto. Consideram que os conselheiros de Dilma avaliaram mal e foram surpreendidos pelo desembarque neste momento. Mas não acham que haverá uma revanche, pois a ala liderada pelo ex-presidente Lula ainda espera uma aliança de apoio a Dilma num eventual segundo turno em 2014.
— Este é um momento de redução de danos. Acho que vão criar mais juízo. O presidente Lula já tinha avisado e não lhe ouviram: ‘não cutuquem Eduardo porque esse aí eu conheço’. Ele queria fazer a coisa de forma amigável, deixando passar o prazo de filiação partidária para conversar — comentou Eduardo na conversa de ontem à noite com os interlocutores.
— Combinaram mal. Não esperavam o rompimento com o PSB agora. Mas saímos na hora certa. Esperamos a presidente Dilma ficar forte de novo, depois da queda de junho. Agora ela está tão forte que está até brigando com o Obama — brincou o líder do PSB na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS).
E agora, qual será o próximo passo? Campos não teme um ataque maior do PT e do governo federal aos governadores do partido ou aos eventuais apoios que vêm sendo costurados em sua pré-candidatura a presidente em 2014. Acha que chegou a hora de todos os atores, dentro e fora do partido, inclusive os irmãos Ferreira Gomes, “botarem as fichas que têm na mesa”.
— Não tem essa estória de preferir este ou aquele. Agora cada um tem que enfrentar a realidade como ela é — comentou Campos no encontro com os aliados, referindo-se, inclusive à preferência da presidente Dilma e do PT de ter o tucano Aécio Neves como adversário, e não ele.
Para “fazer tudo direitinho”, depois da reunião preliminar com integrantes da cúpula do PSB, Campos também se reuniu com o ministro dos Portos, Leônidas Cristino, para lhe avisar que a Executiva chancelaria hoje a decisão de entregar os cargos. Ao contrário do que se previa, o indicado dos Ferreira Gomes não se opôs. Disse que concordava, porque se sentia numa situação constrangedora de ser tachado como “adesista”, em contraponto com o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, da cota de Campos no governo.
De licença médica para realizar uma cirurgia no olho, em São Paulo, o ministro Fernando Bezerra fez os exames preliminares, mas retornará a Brasília hoje para participar da reunião da Executiva. Volta em seguida a São Paulo e, depois da cirurgia, cumprirá a tarefa de entregar a carta de demissão.
— Estamos todos aliviados de vencer essa etapa. O PSB é o primeiro partido, em 10 anos e meio de governo, que tem coragem de entregar os cargos e partir para seu projeto próprio. O próximo passo? Fazer o PSB crescer — comentou Campos, antevendo o pós-rompimento da aliança com o PT. (O Globo)

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