domingo, 29 de abril de 2012

Entrevista Marlos Porto, Presidente do PPS/Arcoverde


Blog Túllyo Cavalcanti: Como o Sr avalia a atual gestão do Prefeito Zeca?
Marlos Magalhães Porto – Em primeiro lugar, Túllyo, gostaria de agradecê-lo pelo convite e lhe felicitar pelo seu blog.  Boa apresentação visual e conteúdo bastante atualizado. Arcoverde precisa ampliar os canais de comunicação independente de que dispõe e seu blog contribui para esse escopo.
Estou morando em Arcoverde desde 02/07/2011 e não tenho visto nenhuma obra de destaque ser realizada. Nem mesmo ações básicas de manutenção e fiscalização têm sido realizadas a contento – pelo menos para os que se preocupam com o cumprimento das leis, com a coibição dos abusos, com a existência de um ambiente socialmente justo, sem privilégios indevidos ou omissões injustificáveis. Como ações de manutenção, podemos citar: limpeza pública, desobstrução de galerias e canais, reposição de calçamento, conservação dos prédios públicos; na área de fiscalização, é preciso desde recolher os animais que tomam contam das ruas e impedir que ruas e calçadas sejam obstruídas com material de construção e metralha, até cobrar o recolhimento correto do ISS pelos comerciantes e evitar que funcionários públicos da prefeitura se valham de seus cargos para a obtenção de vantagens indevidas.
A maioria das pessoas, Túllyo, infelizmente não sabe separar o interesse pessoal daquilo que é público. Um cidadão que tenha tido sua rua calçada vai considerar positiva a gestão, mesmo que pouco tenha sido feito, fora do seu microcosmo. Já aquele que teve um eventual interesse ilegítimo contrariado avaliará negativamente, sem atentar para os avanços. O bom gestor não visa realizar ações eleitoreiras, mas sim contribuir para o pleno desenvolvimento de sua cidade; tampouco receia desagradar a quem quer que seja, pois sabe que muitas vezes isto é inevitável, se, de fato, se propuser a cumprir a lei corretamente.
Por fim, no terreno ético, essa gestão é uma calamidade e uma vergonha para a sociedade arcoverdense. O relatório da CGU, de 550 páginas, do ano de 2009, que muitos desdenhavam e menoscabavam, mostrou aos desavisados ser fruto de um trabalho sério de investigação. O recente escândalo envolvendo o secretário de obras do prefeito, homem de sua confiança, que teve de ser afastado, com a Polícia Federal vasculhando os arquivos da prefeitura, é a prova disto.
Blog Túllyo Cavalcanti: A frente de oposição de Arcoverde conta hoje com mais de uma pré-candidatura a prefeito, como anda as negociações em torno da unidade para sair um só candidato?
Marlos Magalhães Porto – Já estiveram melhores, mas creio que ainda há possibilidade de entendimento. Desde que todos os envolvidos dialoguem em pé de igualdade, sem intermediários, e considerem a possibilidade de abrir mão de uma candidatura. Não é porque um candidato está bem em pesquisas realizadas a seis meses da eleição, que ele é o que tem mais chances de ganhar. O fator surpresa deve ser considerado. Além disso, o eleitor quer novidade – mas sem retrocessos. É preciso mudar. Louvo o presidente do PSB, João Justino, pelo esforço em fazer seu partido ficar na oposição, mesmo diante dos interesses de alguns em levá-lo para o palanque governista. Ele tem total legitimidade em se colocar como opção e sua postulação merece respeito. Não podemos esquecer que João Justino é do partido do governador e que a interferência deste no processo eleitoral de Arcoverde pode ser decisiva. Por outro lado, analisando a recente escolha do prefeito, vemos que os quadros tecnicamente mais bem preparados foram descartados. Refiro-me a Luciano Pacheco e Wellington Araújo. Não vislumbro, por trás do aparente congraçamento entre a predileta do prefeito e os que foram preteridos, nenhum laivo de unidade em torno de um projeto comum. Fato é que o prefeito teve que fazer segredo, esse tempo todo, sobre suas intenções nesta eleição para evitar uma desagregação do seu grupo.
Blog Túllyo Cavalcanti: Mesmo sendo filho de Arcoverde, seu pai ser Giovanni Porto, ex-prefeito da cidade, algumas pessoas comenta que o Sr veio morar em Arcoverde há pouco tempo. Isso pesa contra sua candidatura?
Marlos Magalhães Porto – Acho que isso pesa bastante a favor, já que muitas lideranças importantes da cidade sequer estão morando aqui. Além disso, a Vara Federal de Arcoverde foi criada em março do ano passado; logo, não tinha como sequer cogitar essa possibilidade até então, já que trabalhava desde 2003 na sede do Tribunal Regional Federal da 5ª Regiao, em Recife, do qual sou servidor concursado. Fui gerado em Arcoverde, tendo minha mãe saído daqui para Recife grávida de mim, em 1980, com meus cinco irmãos, todos menores de idade, quando meu pai foi trabalhar no Governo do Estado, na gestão de Marco Maciel. Em Recife sequer fui batizado na época própria, por falta de conhecimento, quer de quem fosse o padre, quer de padrinhos. Cito esse exemplo apenas para mostrar que, de certa forma, vivemos em Recife como “peixe fora d’água”. Uma cidade violenta, poluída, cercada de concreto, com custo de vida mais elevado, onde tudo é distante, de relações pessoais vazias ou inexistentes. Optei por vir morar aqui “de mala e cuia” e tive a felicidade de conseguir isso, algo que muitos querem, mas infelizmente não podem, já que as oportunidades de crescimento são bem maiores na capital – apesar do enorme potencial que tem o interior. Mudei-me para aquela que tem tudo para ser até mesmo a futura capital de Pernambuco. Vim para as origens e mergulho no futuro.
Blog Túllyo Cavalcanti: Caso não venha a ser candidato, o Sr simpatiza mais por qual nome da Oposição? Marlos Magalhães Porto – Sem qualquer mágoa, Túllyo, mas por absoluto dever de fidelidade ao que penso e sinto, diria que um dos grandes injustiçados da política de Arcoverde é o sr. Giovanni Porto. Não me refiro às derrotas para prefeito ou para deputado, mas sim para vereador. 2000 foi a eleição do carro-pipa, em que até a classe média “entrou na dança”. Já em 2004, meu pai pregou no deserto contra a compra de votos, em pleno palanque de Zeca, e talvez por isso apenas lhe deixavam falar em torno de três a cinco minutos – alguém que foi considerado por políticos de renome como o maior orador de massas do interior, igualando-se a ele no Estado apenas o ex-governador Cid Sampaio. Mas ele não pensa mais em se candidatar, embora seu espírito sempre jovem ainda seja capaz de, caso quisesse, contagiar toda essa juventude sedenta de valores, de ideais, de exemplos de vida de pessoas que, como ele, conseguiram ser aquilo que pregaram. Outro que seria um grande candidato é Julião. Ele também foi injustamente derrotado em 2004 e, na época, fazia parte do PPS, do qual hoje, coincidentemente, sou presidente no nosso município. Seria passar a limpo a história recente de Arcoverde. Porém, dos que têm interesse em se lançarem candidatos e estão aparecendo nas pesquisas, João Justino, que também representaria o novo (e que nunca disputou a prefeitura, ao contrário de Israel), é que teria a minha preferência.
Blog Túllyo Cavalcanti: Quais as suas prioridades com Educação e Saúde?
Marlos Magalhães Porto – O PPS tem, nacionalmente, propostas para essas áreas, que deverão ser defendidas pelos seus candidatos; além disso, tenho algumas idéias para apresentar à população, porém no momento certo, caso se efetive a nossa candidatura. Mas, quanto a prioridades, de forma bem genérica, considero possível erradicar o analfabetismo e profissionalizar a grande maioria dos nossos jovens. Na saúde, é preciso botar os médicos do serviço público municipal para cumprirem o Juramento de Hipócrates, pois muitos deles mais se comportam como fariseus ou magos do que como praticantes da ars cvrandi, legada pelo mestre grego. Afinal, Hipócrates libertou a medicina das superstições e magias do passado, mas hoje a medicina também se encontra cativa da magia dos médicos, que é transformar as doenças de contingentes enormes de seres sofredores em fortunas pessoais.
Blog Túllyo Cavalcanti: Como está formada a chapa do PPS para candidatos proporcionais (vereadores)?
Marlos Magalhães Porto – Juntamente com o PSL, partido presidido por Givanildo Alves Lima (Gil da Celpe), que é nosso aliado, temos em torno de 14 nomes dispostos a se candidatarem a vereador. Queremos viabilizar condições melhores para que os mesmos possam disputar, porém não negociamos apoio a esta ou aquela candidatura em troca de vantagens. E, se for o caso, temos disposição e apoio da direção estadual do partido para caminharmos sozinhos.
Blog Túllyo Cavalcanti: Quais os principais desafios de Administrar uma cidade do porte de Arcoverde?
Marlos Magalhães Porto – A grande maioria da população da cidade, Túllyo, é excluída das oportunidades, sofre para conseguir emprego, para ter o que botar na mesa, para ter atendimento de saúde. Quem não precisa passar a madrugada no chão da rua para pegar ficha de atendimento para ter direito a um exame, não tem real dimensão de quão vergonhoso é o estado da saúde pública em Arcoverde. O político sério precisa ter essa sensibilidade mais aguçada. Infelizmente, porém, as pessoas se acostumaram a receber migalhas e se contentarem.  Este governo fomenta as necessidades, para depois saciá-las a conta-gotas. Essa prática não é de hoje, é bom que se diga. O assistencialismo é um mal que urge ser combatido. Muita gente se sente reconfortada em saber que pode pedir uma ajudinha aqui ou acolá a algum político governista, para mitigar alguma aflição de maior intensidade ou urgência. Enquanto isso, a situação geral vai de mal a pior. De uns anos para cá, nem mesmo um ambiente seguro para criar seus filhos é assegurado aos cidadãos. As drogas e a violência ceifam vidas preciosas entre nossos jovens. É preciso empenho em cumprir e fazer cumprir as normas e não se pode ser burocrático na área social. A educação tem que inserir o jovem no mercado de trabalho e lhe dar a possibilidade de exercer um ofício, por mais simples que seja.  O empreendedorismo deve deixar de ser uma utopia. É preciso, por fim, visão de futuro para desenvolver as vocações da cidade, sem esquecer da indispensável atenção ao meio-ambiente.

Blog Túllyo Cavalcanti: O Perfil de Marlos Porto.
Marlos Magalhães Porto – Sou uma pessoa que se entrega facilmente à defesa não de uma, mas de várias causas que me pareçam justas. Isso às vezes é um problema, porque em tudo na vida é necessário ter concentração. Penso que todos somos, na essência, espírito, não matéria. Por isso, interesso-me muito pelo aprimoramento da espiritualidade. Admiro a filosofia da Seicho-no-Ie, o budismo da Escola Ch’an e o Racionalismo Cristão, o qual freqüento aqui em Arcoverde. Profissionalmente, não cobiço nenhum cargo. Sinto-me realizado como servidor da Justiça Federal. Desde a infância, porém, quis ser médico; abdiquei deste sonho, seguindo para a área jurídica, por achar que este seria um campo mais propício para o desenvolvimento de minhas aspirações políticas, vendo esta como a ferramenta indispensável à concretização da Justiça. Pessoalmente, além do privilégio de ter uma mãe-oceano e um pai-farol, ela, um exemplo de simplicidade e de doação aos filhos, ele, sempre orientando e aconselhando, não apenas como pai, mas como amigo, tenho cinco irmãos maravilhosos, cada qual com seu temperamento peculiar. Além disso, tenho uma esposa que amo e que me faz feliz e que, mesmo quando crescem as dificuldades, sabe ser sempre forte e guerreira – e que também adotou Arcoverde como sua cidade do coração.

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