Júlio Zoé de Brito, presidente
da Associação Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural e do Instituto
Agronômico de Pernambuco
A partir dos anos 1970, a
agricultura nacional ingressou em uma fase de modernização. Entre um conjunto
de políticas públicas, foram criadas as empresas brasileiras de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) e de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater).
Esta última, com forte participação dos estados, tinha a missão de levar os
resultados das pesquisas para diferentes segmentos de produtores rurais
(patronal, médio e familiar).
Em meados da década de 1980, a
crise financeira global atingiu o governo federal e os estados e provocou forte
impacto nos serviços de assistência técnica e extensão rural (Ater). O processo
de desestruturação das políticas públicas culminou com o fechamento da Embrater
em 1990. Ainda assim, os governos estaduais mais estruturados mantiveram, com
menos dinheiro, os serviços de assistência técnica e extensão rural, conferindo
prioridade aos pequenos e médios agricultores.
Nas regiões Norte e Nordeste, o
impacto foi muito maior, com o fim de muitas Ematers. No âmbito federal, restou
o Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural (Dater) na estrutura do
Ministério da Agricultura. Era apenas uma unidade residual da então Embrater,
sem condições técnicas e orçamentárias para desenvolver políticas e garantir
apoio às ações dos estados.
Os dirigentes das instituições
estaduais, diante da perda imposta pela política de estado mínimo, decidiram
criar a Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e
Extensão Rural (Asbraer), com o intuito de manter a unidade dos serviços de
Ater e estabelecer um fórum de debate político capaz de atuar como interlocutor
nos mais diferentes espaços de decisão.
Em 2003, o Dater foi transferido
do Ministério da Agricultura para o Ministério do Desenvolvimento Agrário
(MDA), onde passou a integrar a Secretaria de Agricultura Familiar que, entre
outras funções, tinha a de incrementar o Programa Nacional de Apoio à
Agricultura Familiar (Pronaf). Na nova estrutura, o minguado orçamento de R$ 3
milhões do Dater de 2002 passou para os atuais R$ 300 milhões. Hoje, com os
recursos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o MDA
dispõe de mais de R$ 500 milhões para as ações de assistência técnica e
extensão rural em todo o país. Esse volume, somado aos orçamentos de outros
ministérios e órgãos federais, ultrapassa R$ 1 bilhão.
Depois de nove anos, foi
restabelecido nível razoável de oferta de assistência técnica e extensão rural,
que chega a 2,2 milhões de famílias, em um universo de 4,3 de milhões
estabelecimentos rurais familiares, com papel importante na implementação das
políticas públicas, em particular de segurança alimentar e superação da
pobreza. Os serviços de assistência técnica e extensão rural são oferecidos por
meio do Sistema Brasileiro de Ater, no qual unidades estaduais oficiais, com
mais de 16 mil extensionistas presentes em 5.359 municípios, têm um papel
fundamental. Esse trabalho conta também com o apoio de mais de 700 organizações
não governamentais e de serviços, como o Senar, o Sescoop e o Sebrae, os técnicos
do sistema OCB, além da participação de profissionais das prefeituras.
O MDA construiu elementos
fundamentais para atuar como sistema, tais como a Lei nº 12.188/2010, que
instituiu a Política Nacional de Ater (Pnater), a contratação de serviços por
meio de chamada pública, a conferência nacional a cada quatro anos, e definiu mecanismos
de gestão social. Hoje, a maioria das entidades executoras de serviços de Ater
governamentais e não governamentais está credenciada no MDA, por meio dos conselhos
estaduais.
Há de se reconhecer que, nos
últimos 10 anos, ocorreu um grande salto na prestação de serviços de Ater. Mas
a atual estrutura é tímida frente às reais necessidades dos agricultores
familiares em toda a sua diversidade e, ao mesmo tempo, incompatível com a
prioridade social do governo: a erradicação da fome e da miséria que afeta 16
milhões de brasileiros, dos quais 50% estão no campo.
Universalizar os serviços de Ater
e levar as políticas públicas aos que vivem abaixo da linha da miséria no meio
rural implica articular melhor as ações de assistência técnica e extensão rural
no âmbito dos Ministérios, sobretudo do MDA, e estabelecer uma estreita
parceria com os estados, sem excluir as organizações não governamentais, que
atuam de forma complementar no atendimento aos homens e mulheres do campo.
Esse entendimento consensual entre
os diferentes atores do meio rural conquistou expressão na 1ª Conferência
Nacional de Ater, realizada em abril último, e chegou ao centro do governo
federal. Hoje, é possível vislumbrar a construção do Sistema Nacional de
Assistência Técnica e Extensão Rural republicano e contemporâneo, a partir da
decisão da presidente Dilma Rousseff de criar um órgão nacional de Ater.
A decisão do ministro Pepe
Vargas, apoiada pelo ministro Gilberto Carvalho, de criar um grupo de trabalho,
coordenado pela Secretaria de Agricultura Familiar, e comunicada na audiência
com a Asbraer e a Frente Parlamentar de Extensão Rural vai concretizar uma
proposta que, na sequência, será levada à presidente Dilma Rousseff. Com
efeito, tornará real um sonho de todos os extensionistas do Brasil de ter uma instituição
nacional de Ater, que melhor qualifique e universalize os serviços destinados à
agricultura familiar, aos assentados da reforma agrária e aos médios
agricultores brasileiros.
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