Pedro Salviano
Filho
Nesta edição, procura-se observar
um sertão nordestino habitado pelos primeiros homens na época do descobrimento
e, depois, o início da colonização brasileira pelos primeiros portugueses.
Assim, teremos os passos iniciais para, talvez, justificar alguns dos nossos
comportamentos contemporâneos.
Todas as fontes da história do
território hoje conhecido como Brasil, antes da chegada dos europeus, são
arqueológicas (O
Brasil antes dos brasileiros: a pré-história do nosso país. Jorge Zahar Editor.Rio-RJ. 2007. 2ª. Edição. Por André Prous. Pág.13. Na web http://bit.ly/P6aa9c).
O livro de Gabriela Martin Pré-história do Nordeste do Brasil.
(Ed. Universitária da UFPE, 5ª. Edição. 2008 - 434 p. na web em http://bit.ly/LURYic) documenta na pág.66: «Os
primeiros homens que chegaram ao Nordeste brasileiro eram, pelos dados que até
agora possuímos, como os índios atuais. Racialmente pertenciam a grupos
mongoloides como, aliás, todos os habitantes das Américas anteriores à
colonização europeia. Dentro das naturais variedades, existe, portanto, uma
homogeneidade indiscutível nos diferentes grupos humanos brasileiros, o que
identifica todos os índios sul-americanos como oriundos de uma mesma origem.
Mas, se os primeiros habitantes já haviam chegado ao Piauí por volta de 50000
anos, poderia tratar-se de grupos pré-mongoloides que evoluíram já nas Américas
ou que se extinguiram.
Admite-se que os índios brasileiros chegados ao Nordeste são os
descendentes de levas arcaicas, que atravessaram o estreito de Bering alguns
milhares de anos antes. Mesmo que, periodicamente, levante-se a conjetura da
existência de outras vias de acesso, que poderiam ter dado lugar à chegada na
América de grupos humanos em épocas pleistocênicas, nada pode ser provado até o
momento».
Tradição Agreste, sub-tradição Cariris-velhos. A Pedra do Tubarão e o Cemitério dos
Caboclos, em Venturosa, PE, formam parte da mesma estrutura arqueológica,
com antropomorfo isolado e grafismos puros tipo "carimbo", típicos da
tradição Agreste(Pág. 276).
No
livro Cronologia pernambucana. Subsídios
para a história do agreste e do sertão, 1º. Volume. Centro de estudos de
história municipal/FIAM – 1982, Nelson Barbalho escreve na pág. 34 – «Os
Cariris são os primeiros habitantes conhecidos do agreste e do sertão de
Pernambuco. Desse grande povo, cujas origens ficaram aqui rapidamente
esboçadas, vêm as nações dos Carapotós, Xucurus, Carnijós, Pankararus,
Paratiós, Anchus, Pipipães e mais gentes que dariam vida e movimentação às
terras agrestino-sertanejas muitos séculos antes da invasão dos brancos
portugueses e dos negros africanos, e, por direito de conquista, seriam os seus
mais legítimos donos».
Na
pág. 114 do mesmo volume ele registrou: «Em 1º de novembro de 1549, Tomé de Souza, -
primeiro governador-geral do Brasil, mordomo-mor de El-Rei,... declara
instalada a nova cidade de Salvador ... Tomé de Souza fundava
engenhos-de-açúcar e desenvolvia sobremodo a pecuária, introduzindo nas
fazendas brasileiras o gado trazido de Cabo Verde. Baseado nos regimentos que o
nomearam para o exercício do cargo de governador-geral, proibia a escravização
e o saque dos gentios, salvo quando sob licença do governo ou dos respectivos
capitães-mores; estabelecia feiras semanais nas vilas e povoados, nas quais os
indígenas pudessem concorrer, regularmente, comprando, vendendo ou escambando
produtos diversos; autorizava a exploração e povoamento de terras pelo sertão,
para o que enviava bergantins pelo rio São Francisco principalmente, seguindo
tais expedições com línguas (intérpretes) e guias, pondo marcos nos pontos já
descobertos e tomando posse das terras que se descobrissem; não permitia que
ninguém penetrasse ou se comunicasse, pelo sertão, de uma para outra Capitania,
sem estar prévia e devidamente autorizado; obrigava os capitães, fazendeiros e
senhores-de-engenho, para defesa própria e de suas povoações, a armarem-se
fortemente e a construírem, nos seus redutos, torres e casas-fortes (de tal
obrigação nasceriam o coronelismo brasileiro, a capangagem e, mais tarde, o
cangaceirismo nordestino, bem como o uso indiscriminado do bacamarte, do qual
adviriam os populares bacamarteiros das caatingas do Nordeste); e, além de
outras providências salutares, decidia intervir nas administrações de todas as
Capitanias ao longo da costa, visitando-as sistemática e pessoalmente,
acompanhado pelo provedor-mor, .... ».
No
primeiro século da colonização brasileira, alguns aventureiros escreveram sobre
as peripécias aqui vividas. Por exemplo: 1557
- Hans Staden: Viagens e aventuras
no Brasil; 1558 - André Thévet: Singularidades da França Antártica; 1567 - Ulrico Shmidel : História verdadeira de uma viagem curiosa
feita por U. Shmidel; 1578 -
Jean de Léry: Viagem a terra do Brasil.
Hans Staden, que aqui esteve por duas vezes, de volta à Europa redigiu uma das
primeiras descrições para o grande público sobre os costumes dos nossos índios.
Seu livro, VIAGEM AO BRASIL (Versão
do texto de Marpurgo, de 1557, por Alberto Loforen, revista e anotada por
Theodoro Sampaio, Publicações da Academia Brazileira, 1930), pode ser
integralmente lido em http://purl.pt/151/1/P1.html . Já o
filme (1999), que mostra sua segunda viagem ao Brasil, está em: http://bit.ly/McosVm .
Para
os leitores que apreciem o assunto e desejem mais informações, interessantes
livros com crônicas da terra brasileira daquele século também estão disponíveis
para consulta na web: História da
Província Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil, feita por Pedro de
Magalhães de Gandavo, editado em Lisboa, em 1576: http://bit.ly/PnaGA0 . De Gabriel Soares e
Souza: Tratado Descritivo do Brasil,
de 1587: http://bit.ly/R5mc8Y e Narrativa
epistolar de uma viagem e missão jesuítica pela Bahia, Porto Seguro,
Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, S. Vicente, (S. Paulo), etc. desde
o ano de 1583, do Padre Fernão Cardim:
http://bit.ly/OHGLpu .
Em Viagem incompleta – Formação – Histórias: A Experiência brasileira (1500 - 2000). Editora
Senac-SP. 3ª Edição. 2009 – Organizado por Carlos Guilherme Mota (Na web em http://bit.ly/SXnHEy - Aziz Nacib Ab´Sáber, analisando as «Incursões
à pré-história da América tropical», na pág. 42 diz: «Os povos de língua tupi-guarani que
vasculharam e fizeram migrações sucessivas e progressivas por milhões de
quilômetros do território tropical e subtropical da América do Sul
caracterizam-se por forte adaptabilidade aos domínios de florestas, ao uso dos
rios, incluindo moradias e tabas construídas em pontos de diques marginais e
sítios de baixos terraços. Desalojando, finalmente, os homens dos sambaquis
fixados em beira de restingas, adaptados a viver da pesca e coleta de
"frutos do mar". Expulsando e sobrepondo-se belicosamente aos
viventes dos sistemas lacunares estuarinos, os tupis incorporaram pela primeira
vez, na pré-história brasileira, toda a faixa litorânea frontal do país, tendo
por preferência barras de rios e riachos encostados em morretes ou maciços
costeiros florestados. E chegaram até a Amazônia.
Foi neste contexto de ocupação, bastante generalizada dos povos de língua
tupi-guarani, que os colonizadores caucasoides, procedentes da Europa
Ocidental, entraram em contato com os povos indígenas de origem mongoloide. Um
contato que redundou em vasta, complicada e desumana letalidade. Ainda que por
alguns séculos o país tenha vivido uma plena proto-história. Do que resultou
uma trágica eliminação étnica, a par com uma miscigenação gradual - envolvendo
índios e negros, forjadores de um povo diversificado e maravilhoso,
permanentemente pressionado pela insensibilidade do invasor, alheio às
desigualdades sociais e aos atributos eternos da ciência e da cultura.
Dominados por latifundiários, comandados por elites insensíveis e uma
tecnoburocracia incompetente e pouco criativa. Por um capitalismo hipócrita e
uma nefasta pseudoglobalização».
Para
complementar essas observações sobre a origem do povo brasileiro, recorremos ao
antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997), na sua obra final, publicada em 1995,
pouco antes da sua morte: «O povo
brasileiro. A formação e o sentido do Brasil»
(Companhia das Letras, São Paulo-SP, edição de 2008, ver obra completa em http://bit.ly/Qjjnz9 ). Este livro trata das
matrizes culturais e dos mecanismos de formação ética e cultural do povo do
Brasil, onde o antropólogo aborda a história da formação do povo brasileiro,
sua origem mestiça e a singularidade do sincretismo cultural que dela resultou.
Na
página 53 podemos ler: «Em
poucas décadas desapareceram as povoações indígenas que as caravelas do
descobrimento encontraram por toda a costa brasileira e os primeiros cronistas
contemplaram maravilhados. Em seu lugar haviam se instalado três tipos novos de
povoações. O primeiro e principal, formado pelas concentrações de escravos
africanos dos engenhos e portos. Outro, disperso pelos vilarejos e sítios da
costa ou pelos campos de criação de gado, formado principalmente por mamelucos
e brancos pobres. O terceiro esteve constituído pelos índios incorporados à
empresa colonial como escravos de outros núcleos ou concentrados nas aldeias,
algumas das quais conservavam sua autonomia, enquanto outras eram regidas por
missionários».
Na
página 68: «No Brasil, de índios e negros, a obra colonial de Portugal foi também
radical. Seu produto verdadeiro não foram os ouros afanosamente buscados e
achados, nem as mercadorias produzidas e exportadas. Nem mesmo o que tantas
riquezas permitiram erguer no Velho Mundo. Seu produto real foi um povo nação,
aqui plasmado principalmente pela mestiçagem, que se multiplica prodigiosamente
como uma morena humanidade em flor, à espera do seu destino. Claro destino,
singelo, de simplesmente ser, entre os povos, e de existir para si mesmos».
Dez vídeos que compõem os respectivos capítulos desse
interessante livro podem ser acessados:
Matriz Tupi - Cap.1: http://bit.ly/N2gWyI
O Brasil crioulo - Cap. 5: http://bit.ly/R9fHlI
O Brasil sertanejo – Cap. 6: http://bit.ly/QfjTik
O Brasil caipira – Cap. 7: http://bit.ly/MRNkrr
O Brasil sulino – Cap. 8: http://bit.ly/OE8pFC
O Brasil caboclo – Cap. 9: http://bit.ly/R9g8wm
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