Nós
acabamos de ter uma notícia muito triste para Pernambuco e para a política
brasileira. Nós perdemos um grande quadro da política pública brasileira, um
político que fez uma vida pública com grande amor à liberdade e à democracia.
Alguém que ajudou como poucos a transição democrática, um construtor dessa
transição com grande talento, nosso companheiro Fernando Lyra. O Estado está
decretando luto oficial pela perda do ministro Fernando Lyra. Pernambuco perde
um grande quadro político. Um brasileiro que ajudou como poucos a transição
democrática, um apaixonado pela vida, pela liberdade e pela democracia. E eu,
particularmente, perco um grande amigo. Acabo de falar com (o vice-governador)
João (Lyra, irmão de Fernando Lyra) e Márcia (Lyra, esposa de Fernando Lyra),
eles devem estar chegando aqui amanhã pela manhã. Ele deve ter seu corpo velado
na Assembleia Legislativa, onde o povo pernambucano fará uma justa homenagem a
um guerreiro da democracia brasileira.
Pergunta
– Qual a imagem que o senhor tem do primeiro contato com o ministro e
qual a importância que ele teve para a política?
Eu
conheci Fernando quando eu era uma criança. Fernando foi um dos primeiros
políticos brasileiros que encontrou com meu avô no exílio. Ele foi portador,
muitas vezes, de notícias para a minha família. Para a parte da minha família
que estava aqui, ele levava correspondência, trazia correspondência, protegido
pela imunidade parlamentar. Na primeira campanha política que fiz, que eu me
recordo, tinha Fernando como candidato a deputado federal. Então, a minha
relação com ele é de muitos anos. Mesmo nos períodos em que não havia tanto
entendimento dele com meu avô, por circunstâncias políticas, eu sempre
preservei com Fernando uma relação pessoal muito intensa, fraterna. Vivi
momentos muito bonitos e muito duros na política junto com ele. Ele participou
desde o início da construção da nossa primeira candidatura ao Governo, com toda
a sua experiência e toda a sua capacidade de aglutinar. E Fernando sobreviveu
desde 1978 a uma enfermidade que, à época, diziam que ele iria ter uma
sobrevida de cinco anos. E a paixão pela vida e a paixão pela política fizeram ele
sobreviver esse tempo todo com muita qualidade de vida, administrando os
limites. Até que, de 90 dias para cá, a situação foi se agravando de forma
muito rápida. Ele ficou com a vida muito limitada. Mas, durante todo esse
período, ele teve uma participação muito intensa na vida pública brasileira.
Fernando é, na essência, um político. E fez política com “P”
maiúsculo. E faz tanta falta na cena política brasileira gente que faça como
Fernando Lyra fez, pensando no País, pensando de forma generosa no seu povo.Sempre
preocupado em fazer alianças para facilitar as conquistas do conjunto da
população. Era um político bastante instintivo, de uma percepção aguda da hora
de fazer. Ele foi um dos grandes tribunos da política brasileira até o final do
século passado. Minha geração recorda dos seus discursos nas campanhas pelas
Diretas Já e nas campanhas de doutor Tancredo Neves. Sobretudo, ele teve uma
passagem muito bonita pelo Ministério da Justiça. Ele formou um time de grandes
colaboradores, que na época eram pessoas nem tão conhecidas. Joaquim Falcão,
Cristovam Buarque, José Paulo Cavalcanti, pessoas hoje brilham em diversas
atividades, mas que trabalhavam com ele enquanto ministro da Justiça. O que ele
fez com os artistas brasileiros durante o processo de por fim à censura, como
algo que efetivamente constrangia a cena cultural brasileira em plena ditadura.
Ele fez isso com grande capacidade política, em um tempo no qual a democracia
ainda estava engatinhando. Então, Fernando teve uma vida bonita e deixa uma enorme
saudade.
Pergunta –
Governador, o senhor chegou a visitar o ex-ministro em São Paulo. Naquele
momento, a saúde dele já estava muito fragilizada, mas ainda havia esperança de
uma recuperação?
Na
verdade, esperança a gente sempre tem. Sobretudo quem é cristão como eu. Mas a
gente sabia. Era um lado querendo ter esperança e o outro lado da razão. Eu que
já vi pessoas muito queridas naquela situação, percebia, e para isso conversei
muito com os médicos. Sabia que era um quadro muito duro. Ao mesmo tempo, uma
coisa que me confortou, e eu disse às filhas de Fernando, foi que ele estava
muito tranquilo e não parecia ter sofrimento. Isso é tudo que a gente pede para
uma pessoa que a gente gosta. Fernando foi salvo várias vezes nesses 30 anos de
enfermidade pela tecnologia. Eu dizia a ele que o remédio era inventado em uma
semana e na outra ele tava precisando.
Pergunta –
Qual foi a causa da morte?
Ele
teve um infarto muito grande em 1978, quando ele não tinha nem 40 anos de
idade, e depois teve outro. Ele tinha uma insuficiência cardíaca muito grave. O
organismo se adaptou ao coração bombeando pouco sangue. Mas nos últimos 90
dias, já não era compatível com a vida humana. Ou seja, ele usava marca-passo e
medicamentos para estimular o músculo. De fato, ele já não tinha o músculo
cardíaco. Foi isso que levou a agravar a situação nesses dois meses dependendo
das máquinas na UTI.
Pergunta –
Foi declarado luto?
Três
dias de luto oficial.
Pergunta –
Qual será o horário do velório?
Pela
informação que eu recebi de João Lyra, ele deve estar chegando amanhã, por
volta das 11h, pois tem todo um processo para esse transporte. O velório será
ao meio-dia, na Assembléia Legislativa, e a decisão da família é realizar o
sepultamento às 17h, no Morada da Paz. O pessoal vem desde antes do Natal em
uma luta muito dura.
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