O
senador Armando Monteiro está preocupado com a ameaça da volta da
inflação no Brasil. Em entrevista ao programa De Olho na Cidade, com
Ciro Bezerra e Aderval Barros, na Rádio Olinda, o parlamentar
pernambucano afirmou que o país já está no limite da meta de inflação.
“Ela está batendo no teto. Você sabe que, nestas políticas de metas,
temos o centro da meta e o teto. E sabe-se que se não tivesse acontecido
aquela redução do preço da energia nós já tínhamos extrapolado o teto.
Isto é um perigo”, acrescentou.
Na
entrevista, Armando elogiou a iniciativa tomada pela presidente Dilma
de desonerar a cesta básica e mostrou confiança no crescimento do Brasil
em 2013, mas foi enfático ao defender a estabilidade monetária: “O
Brasil não pode descuidar-se do controle da inflação. O controle da
inflação não é mais algo de governo. É um valor social. O brasileiro já
não aceitaria uma situação de descontrole inflacionário”.
Leia abaixo alguns trechos da entrevista:
Desoneração da cesta básica
Armando Monteiro –
“Foi uma medida correta. O Brasil há muito tempo já deveria ter
desonerado a cesta básica. Uma das características mais perversas do
sistema tributário nacional é que toda a arrecadação, praticamente,
deriva de impostos indiretos. É o imposto que está no preço dos bens,
das mercadorias e dos serviços que nós consumimos. Isto significa é que
quem paga mais é quem tem menos renda. Veja o paradoxo. O sistema é
regressivo. Numa cesta básica destas quem ganha menos paga,
proporcionalmente, muito mais tributo. Quando se compra artigos de
higiene, por exemplo, o rico está pagando a mesma carga tributária que o
pobre. Então em vez de ser um modelo progressivo de tributação, em que
os que ganham mais pagam mais, o sistema no Brasil é regressivo. Termina
por penalizar os que ganham menos. Então, era necessário ter desonerado
a cesta básica há muito tempo. O importante é que a presidente Dilma
tenha dado este passo”.
“Agora,
num primeiro momento, há todo um acerto na cadeia produtiva para poder
fazer com que efetivamente esta desoneração passe ser sentida lá na
ponta pelo consumidor. Mas eu não tenho dúvida de que nós vamos poder,
com esta desoneração reduzir, de forma significativa, os preços da cesta
básica”.
A economia em 2013
Armando Monteiro –
“Eu gosto sempre de fazer um exercício positivo e otimista. O Brasil
teve um desempenho frustrante ano passado, um Pibinho, como se
convencionou chamar. Realmente, a atividade econômica se revelou muito
débil, sobretudo considerando fatores como o desempenho negativo da
indústria, que concorreu para que o PIB crescesse pouco. E porque a
indústria está crescendo pouco? Porque a indústria está perdendo
competitividade, ou seja, está caro produzir no Brasil. No Brasil a
energia é cara, os problemas de logística, de infraestrutura, a
produtividade na área da indústria não tem acompanhado o aumento dos
custos, inclusive trabalhistas. Então, o Brasil vem perdendo
competitividade. E com isto há uma maior penetração de produtos
manufaturados importados”.
“Por
outro lado, o investimento, que afeta o PIB, caiu também: 4 pontos
percentuais. Felizmente, este dado de janeiro (expansão de 1,29%, na
comparação com dezembro de 2012, do Índice de Atividade Economia /
IBC-BR), que é um dado antecedente, ou seja, antes de medir o desempenho
do PIB pelo IBGE, o Banco Central faz uma avaliação do nível da
atividade da economia. E aí, felizmente, este dado de janeiro
surpreendeu positivamente. Ele foi além da expectativa do mercado. Se
você tomar esta taxa que nós tivemos em janeiro, 1.29% de crescimento
sobre a base anterior, se você projetar isto, de forma anualizada, nós
já poderíamos estar crescendo num ritmo de 4%. Ora, se tivemos 0,9% de
crescimento ano passado e já estamos em uma velocidade, digamos, de
Cruzeiro, de 4%, nós vamos ter um desempenho melhor”.
A ameaça da inflação
Armando Monteiro –
“Preocupa. Nós já estamos com uma inflação alta. Ela está batendo no
teto. Você sabe que, nestas políticas de metas, temos o centro da meta e
o teto. E sabe-se que se não tivesse acontecido aquela redução do preço
da energia nós já tínhamos extrapolado o teto. Isto é um perigo. O
Brasil não pode descuidar-se do controle da inflação. O controle da
inflação não é mais algo de governo. É um valor social. O brasileiro já
não aceitaria uma situação de descontrole inflacionário. Então, eu acho
que mesmo que você tenha que recorrer – e eu falo com a autoridade de
quem sempre se colocou contra aquela política de juros do passado - ao
remédio amargo, circunstancialmente, episodicamente, de elevar um pouco a
taxa de juros, para não deixar a inflação sair do lugar, eu acho que
isto se justifica. Porque o pior dos mundos é você ter um
recrudescimento da inflação, porque quem paga são exatamente aqueles que
têm menor renda”.
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