Em entrevista ao programa “Você faz a Noticia”, apresentado pelo radialista Valdir Bezerra, na Rádio Capibaribe, o senador Armando Monteiro elogiou o compromisso da presidente Dilma Rousseff em controlar a inflação. “Ela sabe que se isso não acontecer estaremos penalizando os segmentos mais pobres da população”. Ele também falou sobre reforma política, turbulências econômicas em países europeus, e voltou a enfatizar que o PTB nunca fez convite para o ex-prefeito João Paulo (PT) ingressar na legenda. “João Paulo é uma questão do PT. O que interessa ao PTB agora é fortalecer o partido para as eleições de 2012”, repetiu.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista de Armando Monteiro:
Reforma política
Armando Monteiro – “Eu reconheço que esse tema é bastante complexo. É difícil você construir um consenso em torno dos principais pontos da reforma. Veja que os principais partidos com assento no Congresso, o PT e o PMDB, por exemplo, têm pontos de vista discordantes em alguns aspectos muito importantes da reforma. Por exemplo, enquanto o PT defende o voto distrital puro, com lista fechada, o PMDB defende o tal distritão, o distrital puro ampliado. Então você vê que o tema da reforma política é sempre muito difícil e é por isso que ao longo de quase duas décadas essa reforma não avança verdadeiramente.
“Agora o Senado constituiu uma comissão que é presidida pelo senador Francisco Dornelles (PP-RJ) e formada por um grupo de notáveis, ex-presidentes da República, ex-governadores, lideranças. No Senado, o processo tem evoluído, sobretudo porque vem se tentando fazer um consenso em torno de pontos menos sensíveis da reforma. Por exemplo, já há um razoável consenso sobre aquele ponto do fim das coligações nas eleições proporcionais. Já houve uma decisão também sobre a questão do suplente de Senador, pois todos reconhecem que hoje o sistema atual é inadequado, já que o suplente carece de representatividade do ponto de vista do voto popular.
E agora também houve já um pré-acordo com relação ao instituto da reeleição, no sentido de vedar a possibilidade da reeleição, ampliando os atuais mandatos de quatro para cinco anos. Então, no Senado a gente verifica que o tema vem avançando de forma a eleger pontos que não estão ainda identificados com o núcleo mais importante da proposta.
Em resumo, eu acho que é um tema difícil para você poder construir um entendimento político mais amplo, embora reconheça ser possível fazer alguns avanços, pela forte demanda da sociedade, que percebe que o sistema atual está esgotado. Mas não uma reforma de caráter mais amplo.”
Fim da reeleição
Armando Monteiro – “Eu sou favorável ao fim da reeleição. Acho que o instituto da reeleição no Brasil apresentou problemas, pois se sabe que há uma grande tentação para a utilização da máquina pública. Isso significa dizer que as eleições muitas vezes são desequilibradas. O peso da máquina termina desequilibrando a eleição. Acho que foi uma experiência que no Brasil não deu certo, embora evidentemente você possa até reconhecer que o instituto na sua essência não é antidemocrático. O povo pode, a rigor, se pronunciar sobre a continuidade de um projeto de gestão. Mas evidentemente, no Brasil, pelas suas peculiaridades, sobretudo a questão das eleições municipais, há muitas vezes abusos que têm de ser evitados, e por isso talvez o melhor seja o Brasil não adotar a reeleição, ampliando os mandatos de quatro para cinco anos.”
Controle da inflação
Armando Monteiro – “Nós não podemos nunca dar trégua à inflação. O processo da inflação implica numa luta permanente. Sobretudo em um país que ainda tem uma cultura, uma memória inflacionária, e onde existem mecanismos de indexação ainda presentes na economia, que de certo modo contribuem para realimentar a inflação. Veja a questão dos serviços educacionais, dos aluguéis. Agora mesmo o Brasil está tendo uma inflação anualizada de 6%, mas no setor de serviços, em alguns serviços a inflação já passou de 8%, 8,5%, por conta dos indexadores. Então o Brasil precisa ter muito cuidado, para que esse dragão da inflação não volte, sabendo que esse mal atinge, penaliza, sobretudo aquela parcela da população de menor renda, que não pode se proteger do efeito inflacionário. Então, essa é uma luta sem trégua, é uma luta que o Brasil tem que travar a cada dia. A presidente Dilma está certa quando declara que o seu principal compromisso é manter a inflação controlada. Porque ela sabe que se isso não acontecer nós estaremos sobretudo penalizando os segmentos mais pobres da população. O brasileiro não quer a inflação de volta. Por isso nós temos de estar atentos e vigilantes, usando a política monetária, a política fiscal, de forma equilibrada, para evitar o risco de um descontrole inflacionário.”
Turbulências econômicas no mundo
Armando Monteiro – “Não há dúvida nenhuma de que há problemas no horizonte. O mundo mudou e vem mudando. Houve uma década de alto crescimento econômico, de grande prosperidade em escala global, mas desde 2008 o mundo atravessa um período de turbulências econômicas. Os Estados Unidos experimentaram um período praticamente de estagnação e agora é que a economia americana começa a dar sinais de recuperação. Já a Europa vem tendo um crescimento baixíssimo. Há vários países na Europa que estão confrontados com muitas dificuldades de natureza fiscal, países que estão hoje inclusive precisando da ajuda da comunidade européia e do próprio Fundo Monetário Internacional (FMI). Veja que tivemos a Grécia inicialmente, a Irlanda, e agora a crise em Portugal. Um plano de austeridade foi apresentado e não foi aprovado, o governo então caiu. Portugal tem problemas sérios, tem uma dívida pública quase de 90% do PIB e vai ter compromissos muito pesados nesses próximos meses. Portanto há uma grande apreensão com a situação de Portugal. No entanto, a economia portuguesa é pequena, se você levar em conta o tamanho da Europa. Então, por maior que seja o problema em Portugal ele é relativamente pequeno no contexto europeu. O risco é que esse processo alcance economias de maior porte. E já tem gente falando das dificuldades da Espanha, da Itália. Precisamos acompanhar esse quadro com muita atenção, porque se houver um contágio em economias de maior dimensão, aí sim isso pode causar grandes problemas à economia mundial.”
João Paulo é uma questão do PT
Armando Monteiro – “Nunca fizemos um convite ao companheiro João Paulo, porque entendemos que ele pertence aos quadros do PT. Portanto essa questão de João Paulo é uma questão do PT. Seria uma deselegância, seria até uma forma pouco reveladora desse espírito de aliança, se nós estivéssemos pretendendo tirar um quadro da expressão de João Paulo. João Paulo precisa, e vai no momento certo, eu acho, definir o seu rumo. Eu aposto que ele continua no PT, pela identidade que construiu com o partido, pela trajetória dele ao longo do tempo. Então o PTB não formulou nenhum convite, por entender que essa é uma questão do PT. O que interessa ao PTB agora é fortalecer o partido para as eleições de 2012. Neste sentido, a partir de uma decisão da executiva estadual do partido, nós vamos fazer um grande trabalho de mobilização em todas as regiões de Pernambuco, identificando novas lideranças, estimulando os companheiros a participar do processo político-eleitoral. Essa é a nossa prioridade.”
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